James Cisnandes mostra o caminho das pedras para a Transformação Digital no Agro.

Março de 2020 – Identificar o nível de maturidade tecnológica de uma empresa não é tarefa fácil. Existem algumas metodologias para isso e que devem ser adequadas para cada segmento de negócio. Neste campo, tudo que é intangível e abstrato, além de ser difícil de mensurar, mas é preciso que seja feito. Contratar uma consultoria para apoiar nessa importante missão requer muitos cuidados para não levar “gato por lebre”.

No caminho para a transformação digital, um dos grandes desafios é a mudança cultural. O que caracteriza uma empresa digital é, sobretudo, a mentalidade de querer se manter em constante evolução, estando de olho nas mudanças à sua volta, em todos os aspectos. E, para inovar, vemos cenários muito diferentes e distantes entre as empresas, mas igualmente desorientadas em relação a essa jornada.

Um exemplo recente desse cenário se deu no início deste ano durante uma reunião com o presidente de uma tradicional Cooperativa de Produtores Rurais, com várias décadas de história de sucesso. Apresentei um infográfico, no qual as empresas são classificadas em cinco níveis de maturidade tecnológica, e perguntei em qual nível a cooperativa estava. A resposta humilde daquele gestor experiente e cauteloso foi bem sensata: “Estamos bem atrasados. Acho que na fase um ou até antes”.

Num segundo caso também recente, uma grande empresa agroindustrial procurava tecnologias para área de Manutenção Industrial, ou seja, chão de fábrica, que incluísse o uso de óculos inteligentes para aplicações de Realidade Aumentada e Realidade Virtual. Ao interagirmos, fizemos a pergunta chave: como a empresa chegou à conclusão que aquele tipo de equipamento e tecnologia era adequado à necessidade da área de negócio?

Aquilo que imaginávamos se confirmou: a decisão por buscar essas novidades não nascia de um estudo de viabilidade, atrelada a um plano maior da companhia, com estimativa de ganhos e, tão pouco, de uma análise de gestão de mudança. Ou seja, comprariam equipamentos ou sistemas que ficariam parados e sem utilização, um verdadeiro “elefante branco”.

Os dois casos mostram a importância de um plano estruturado para guiar as decisões das empresas no que se refere à implementação de novas tecnologias rumo à digitalização do negócio. Os cenários são distintos: há aquelas que ainda não iniciaram os conceitos básicos, enquanto outras, que já atingiram um alto patamar de desenvolvimento tecnológico no modelo de gestão, precisam continuar a jornada de transformação digital, impulsionadas, sobretudo, pela onda da Indústria 4.0.

Pode soar muito obvio, mas tudo começa pela estratégia do negócio dentro do estágio de avanço de cada empresa. Daí, os objetivos ganham ramificações em pessoas, processos e tecnologia. É como num receituário médico, a dosagem de cada medicamento e o tratamento deve ser personalizado para cada pessoa, com base no diagnóstico realizado. Sem o engajamento da alta direção, seja numa cooperativa ou indústria, não há que se falar em transformação digital. Ou a transformação será incompleta, pontual, tendo em vista a importância do fator cultural, horizontal e verticalmente, que deve envolver do CEO ao operador no chão de fábrica ou no campo, porteira para dentro.

A Transformação Digital pressupõe visão de ecossistema, visão holística, visão de sustentabilidade dos negócios. E o caminho das pedras pede um trabalho analítico, com um parceiro que saiba desenhar a rota de mudança e mais do que nunca, que traga metodologias e definições de um plano consistente e consciente. Não dá para arriscar e, uma coisa é certa: do caminho desenhado à cada empresa dependerá seu sucesso.

*James Cisnandes Jr. é Head de Agribusiness da Engineering, companhia global de Tecnologia da Informação e Consultoria especializada em Transformação Digital

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