Agosto de 2021 – A modernização, automação e digitalização de processos estão se difundindo em diversos campos da economia e a logística não é exceção. Essa evolução, também chamada de logística 4.0, é algo que precisa ser acompanhado pelas empresas do setor, caso contrário a perspectiva é de perda de mercado, de competitividade ou até mesmo do encerramento das atividades.

O presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, Paulo Menzel, considera que esse novo cenário deriva de uma necessidade provocada pela indústria e pelo agronegócio. “Não é mais possível se fazer logística aos moldes que se fazia antigamente”, sustenta o dirigente. Ele argumenta que as pontas do mercado, o vendedor e o comprador, entenderam que há um elo importante entre esses extremos que é justamente a logística. Menzel destaca que agora a prática é vista como uma parte da operação em si.“

Até pouco tempo, se negociava tudo em volta de quem comprava e quem vendia e se chamava alguém para levar a mercadoria até o destino e hoje a logística é um fator crucial”, comenta o integrante da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura. O dirigente salienta que a logística não é uma “solução de prateleira” e quase sempre tem um DNA personalizado para cada cliente. Em virtude disso, cresce a importância da atualização e diversificação das iniciativas apresentadas pelos agentes do setor. “Quem não seguir a evolução tecnológica, fatalmente sairá do mercado”, reforça Menzel. Um dos pontos essenciais nesse contexto, segundo o presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, é a rastreabilidade das mercadorias, da sua origem ao destino.

Ele acrescenta que os marketplaces, que comercializam os mais diversos tipos de artigos em um mesmo lugar, transformaram os produtos em uma espécie de commodities. “Você encontra o mesmo item no Magazine Luiza, Amazon, Mercado Livre ou outro, o consumidor já não compra pelo produto, o consumidor está levando em conta o tempo de entrega”, comenta o dirigente. Menzel frisa que o prazo para uma encomenda chegar ao cliente vem caindo vertiginosamente. Isso obriga ainda mais as empresas a aprimorarem seus processos logísticos.

Acompanhamento em tempo real é uma das demandas do mercado

Uma logística cada vez mais com informações precisas é o horizonte que se desenha para os empreendedores dessa área. Essa situação implica a gestão do transporte em tempo real, acompanhando todas as informações do deslocamento dos caminhões, sabendo onde eles estão e os detalhes das suas cargas, adianta o CEO da operadora BBM Logística, André Prado, que destaca que o mundo tem mudado rapidamente, com um aprimoramento intenso da tecnologia.

“Essa grande alteração que está acontecendo agora na indústria e diretamente na logística é o começo da transformação de comandos e processos, que eram físicos, em digitais”, ressalta o executivo. Ele acrescenta que o grande objetivo da logística 4.0 é usar sistemas para digitalizar a logística e, através dessa medida, oferecer melhores soluções e administrar em tempo real o transporte de mercadorias, sendo mais eficiente e ágil.

Prado considera que essa prática progrediu bastante. “Normalmente, os veículos têm equipamentos de radiofrequência, que ajudam a localizá-los, melhorando o acompanhamento da operação”, aponta. O executivo comenta que a BBM Logística está digitalizando a sua cadeia inteira, desde a matéria-prima até o cliente final. Essa ação permitirá que seja acompanhada uma atividade de transporte, usando sistemas de inteligência para achar as melhores soluções. Ou seja, os dados são digitalizados e as informações coletadas são tratadas de forma matemática por pesquisa operacional (método analítico) para otimizar o serviço.

Para o dirigente, o maior desafio atualmente é justamente esse de digitalizar os dados e aprimorar o repasse imediato das informações para o transportador, tornando modelos físicos em virtuais. Prado argumenta que para chegar nesse objetivo é preciso um sistema robusto para trafegar com um volume intenso de dados, a uma boa velocidade. O executivo acrescenta que o “boom” do e-commerce fez as empresas de logística, que representam a finalização do ciclo de compra, buscarem novas aplicações tecnológicas e inovadoras para trazer soluções integradas e consistentes, que apoiem toda a operação.

Essas respostas disruptivas começam a ser observadas em diversos setores da economia, inclusive em alguns tradicionais e ligados ao meio rural, como é o caso do mercado do leite. O gerente de Delivery da Engineering, Jefferson de Oliveira Monteiro, assinala que nesse segmento é possível monitorar informações fundamentais sobre o produto como, por exemplo, a temperatura em que está sendo transportado. Ele complementa que o uso da tecnologia libera o motorista do caminhão que leva o líquido para se concentrar na sua função essencial. O próximo passo, segundo Monteiro, é a tecnologia apontar os melhoramentos no serviço que o “olho humano” não consegue captar.

A Engineering é uma companhia de Tecnologia da Informação e consultoria especializada em transformação digital. Um projeto desenvolvido pela empresa envolve a análise de quais pontos de coletas de produtos fazem sentido permanecerem nas rotas dos veículos ou não. Na cadeia leiteira, Monteiro diz que há um grande espaço para modernizar a produção e apresentar soluções, contudo é preciso superar algumas desconfianças. “Eu já escutei de uma pessoa que ela preferia comprar uma vaca do que investir em tecnologia”, recorda o gerente de Delivery da Engineering.

Ele argumenta que muitos empreendedores envolvidos com o agronegócio focam na questão da produção e em números quantitativos e não tanto em questões que podem agregar valor ao item final. No entanto, Monteiro frisa que cada vez mais o pequeno produtor está percebendo esse outro lado. Uma das ações que pode contribuir para o setor, indica o gerente de Delivery, é o sensoriamento dos caminhões, que ajuda a evitar que o produto transportado seja fraudado. “A posição geográfica (checando se houve desvios da rota original ou não) é uma forma da gente verificar se aconteceu alguma anormalidade e outra maneira é a leitura feita por instrumentos de automação”, detalha o dirigente.

Para que o avanço tecnológico possa ser melhor aproveitado, Monteiro adverte que é necessário que a mão de obra evolua e cabe às empresas auxiliarem na capacitação desses profissionais. “Não podemos esperar que as pessoas vão sair da zona de conforto delas sozinhas”, enfatiza.

Publicação original: Jornal do Comércio

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